As recentes mortes de negros pela violência policial reacenderam as tensões raciais nos Estados Unidos.
No país, estatísticas mostram que pessoas negras têm maior probabilidade de serem mortas pela polícia do que brancos.
O movimento civil Black Lives Matter contribuiu para dar visibilidade ao problema.
O racismo é um problema histórico dos Estados Unidos. No início do século 20, negros e brancos viviam em uma sociedade completamente segregada. A situação era mais grave nos estados do sul.
Nas décadas de 1950 e 1960 o Movimento pelos Direitos Civis lutou pela igualdade e pelos direitos da população negra.
Em setembro de 2016, a morte de dois homens negros desarmados nos estados de Oklahoma e na Carolina do Norte causaram comoção e revoltas nos Estados Unidos. Na cidade de Charlotte (Carolina do Norte), depois de três noites de protestos barulhentos nas ruas, foi instaurado o toque de recolher e declarado o estado de emergência.
Esses são os exemplos mais recentes de uma sucessão de casos no ano que mantém acesa a polêmica sobre a existência de racismo institucional entre as forças de segurança dos Estados Unidos. A questão está cada vez mais em debate no país. A abordagem policial é diferente por causa da cor da pele de uma pessoa?
Casos como esses inspiraram a criação do movimento civil Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português), que combate a violência policial contra os negros e luta pelos direitos humanos da comunidade negra. Criado em 2013, o movimento ganhou repercussão em todos os EUA.
Segundo os ativistas, o racismo ainda é um drama cotidiano e os abusos de autoridade no país em relação aos cidadãos negros são frequentes. Exemplos são muitos, como o uso excessivo da força, casos em que homens negros são detidos ilegalmente pela polícia por terem um farol do carro quebrado, ou crianças negras que são abordadas por brincarem com armas de brinquedo.
O Black Lives Matter obteve grande visibilidade no noticiário internacional e nas redes sociais, que popularizaram o slogan do movimento. Na internet, é comum o uso da hashtag #BlackLivesMatter quando surge um novo caso de morte de negros por policiais e que foi considerado injusto.
Manifestações nas ruas e o apoio de artistas como Beyoncé, Jay-Z, Kanye West e Drake também foram fundamentais para a visibilidade da causa. No início deste ano, a cantora Beyoncé publicou uma carta aberta no seu site oficial criticando a polícia: “Estamos fartos e cansados dos assassinatos de homens e mulheres jovens em nossas comunidades. Depende da gente tomar posição e exigir que eles parem de nos matar. Nós não precisamos de compaixão. Precisamos que todos respeitem nossas vidas”.
O primeiro grande protesto do movimento BLM aconteceu em 2014, após a morte do jovem Michael Brown, na cidade de Ferguson, no estado do Missouri. Ele estava desarmado quando foi alvejado pela polícia. O episódio deu origem a protestos em todo o país e abriu um debate público que expôs o racismo que continua a existir na sociedade norte-americana.
As estatísticas fundamentam a disparidade no uso da força policial nos Estados Unidos e revelam que pessoas negras têm maior probabilidade de serem mortas pela polícia do que brancos. Segundo dados do FBI, em 2015, 37% das pessoas desarmadas mortas pela polícia americana eram negras, embora os afro-americanos representem aproximadamente 13% da população.
Já o estudo Mapping Police Violence aponta que negros têm até três vezes mais chances de serem mortos por policiais do que brancos. Em casos de mortes em que a vítima não estava armada, essa possibilidade é de até cinco vezes maior.
Nesse debate, o presidente Barack Obama assumiu um importante papel. Em 2008, Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. O fato de um homem negro assumir a presidência foi considerado por muitos como o início de uma nova era nas relações raciais. Mas as desigualdades persistem. Os negros também formam a maior parte da população em situação de pobreza (24%) e têm uma escolaridade menor do que brancos.
Apesar de Obama representar um importante símbolo, o racismo ainda é uma ferida aberta nos EUA. A organização The Southern Poverty Law Center, uma das mais importantes do país especializada em direitos civis, fez um levantamento no qual mapeou a existência de 892 “grupos de ódio” no país em 2015. Destes, 190 são ligados à Ku Klux Klan, organização racista que hoje se define como um movimento político.
Segundo a organização, houve um aumento no número de grupos racistas desde a virada do último século. Ao contrário do Brasil, nos EUA não é crime divulgar conteúdo racista. Os motivos desse aumento seriam o intenso fluxo de imigrantes (especialmente de latino-americanos) e as projeções demográficas que mostram que os Estados Unidos estão passando por uma transformação social e se tornando um país cada vez mais multirracial. A estimativa é de que, em 2040, os brancos não serão a maioria da população norte-americana.
Uma história de luta por direitos
A segregação racial marcou a história dos Estados Unidos e se tornou um assunto fundamental para entender a formação desta nação. O território norte-americano foi colonizado principalmente pelos ingleses, que instauraram o regime de escravidão na colônia, com o trabalho escravo de africanos. Com a Declaração da Independência (1776), os americanos criaram o primeiro Estado democrático sob os ideais da liberdade e da igualdade. Apesar disso, a abolição só aconteceu no século 19, como um dos desdobramentos da Guerra de Secessão (1861 – 1865).
Na sangrenta Guerra de Secessão, a questão racial foi um dos fatores centrais. Os estados americanos do norte tentaram abolir a escravidão nos estados do sul - cujo sistema de plantation era dependente da mão de obra negra e escrava. Contrariados, os sulistas resolveram se separar do resto do país e formaram a Confederação Americana, que foi derrotada.
Após a abolição, os negros continuaram a ser considerados inferiores e colocados em uma posição subordinada. Também eram proibidos casamentos inter-raciais e as lideranças políticas faziam de tudo para impedir a população negra de ter acesso ao voto e a cargos de liderança.
No final do século 19, uma organização chamada Ku Klux Khan ganhou milhares de adeptos e o apoio da aristocracia sulista. A organização pregava a supremacia branca e agia com violência para perseguir famílias negras. Praticavam crimes de ódio que espalharam medo pelos estados do sul, como o linchamento, a tortura, assassinatos e incêndios. Os enforcamentos de negros no sul viraram tema da canção "Strange Fruit" (Fruta estranha), imortalizada pela cantora de jazz Billie Holiday (1915-1959).
Em 1869, um júri federal classificou a Ku Klux Khan como uma organização terrorista. Foi então aprovada uma lei, conhecida como Civil Rights Act, na qual crimes raciais passaram a ser julgados em âmbito federal. Apesar disso, a partir de 1876, os estados do sul começam a aprovar leis estaduais que buscavam impor a segregação racial em ambientes públicos.
Na prática, no início do século 20, negros e brancos viviam em uma sociedade completamente segregada. A situação era mais grave nos estados do sul, onde negros e brancos eram proibidos de estudar nas mesmas escolas, frequentar as mesmas igrejas e compartilhar bebedouros ou espaços em trens e ônibus. Por exemplo, um negro só podia se sentar num ônibus se todos os brancos estivessem sentados.
A partir da década de 1950 começa o Movimento pelos Direitos Civis, que lutou pela igualdade de direitos da população negra. Em 1954, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou inconstitucional a segregação racial nas escolas públicas. No ano seguinte, a costureira Rosa Parks se negou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco em Montgomery, no Alabama.
Seu protesto desencadeou um movimento de boicote de mais de um ano ao transporte coletivo na cidade, no qual se destacou o pastor batista Martin Luther King. O protesto culminou com uma resolução da Justiça que tornou ilegal os ônibus segregados na cidade. O movimento pelos direitos civis da população negra ganhava as ruas, também apoiado por militantes vindos dos estados do Norte.
Em 1963, cerca de 250 mil pessoas marcharam em Washington pelo fim da segregação racial, no evento que ficou conhecido como a Marcha de Washington. O ponto alto foi o discurso do reverendo Martin Luther King, considerado como um dos episódios mais marcantes da luta contra o preconceito.
“Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. No ano seguinte, foi promulgada a Lei dos Direitos Civis, que proibiu a discriminação racial nos EUA.
Na sangrenta Guerra de Secessão, a questão racial foi um dos fatores centrais. Os estados americanos do norte tentaram abolir a escravidão nos estados do sul - cujo sistema de plantation era dependente da mão de obra negra e escrava. Contrariados, os sulistas resolveram se separar do resto do país e formaram a Confederação Americana, que foi derrotada.
Após a abolição, os negros continuaram a ser considerados inferiores e colocados em uma posição subordinada. Também eram proibidos casamentos inter-raciais e as lideranças políticas faziam de tudo para impedir a população negra de ter acesso ao voto e a cargos de liderança.
No final do século 19, uma organização chamada Ku Klux Khan ganhou milhares de adeptos e o apoio da aristocracia sulista. A organização pregava a supremacia branca e agia com violência para perseguir famílias negras. Praticavam crimes de ódio que espalharam medo pelos estados do sul, como o linchamento, a tortura, assassinatos e incêndios. Os enforcamentos de negros no sul viraram tema da canção "Strange Fruit" (Fruta estranha), imortalizada pela cantora de jazz Billie Holiday (1915-1959).
Em 1869, um júri federal classificou a Ku Klux Khan como uma organização terrorista. Foi então aprovada uma lei, conhecida como Civil Rights Act, na qual crimes raciais passaram a ser julgados em âmbito federal. Apesar disso, a partir de 1876, os estados do sul começam a aprovar leis estaduais que buscavam impor a segregação racial em ambientes públicos.
Na prática, no início do século 20, negros e brancos viviam em uma sociedade completamente segregada. A situação era mais grave nos estados do sul, onde negros e brancos eram proibidos de estudar nas mesmas escolas, frequentar as mesmas igrejas e compartilhar bebedouros ou espaços em trens e ônibus. Por exemplo, um negro só podia se sentar num ônibus se todos os brancos estivessem sentados.
A partir da década de 1950 começa o Movimento pelos Direitos Civis, que lutou pela igualdade de direitos da população negra. Em 1954, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou inconstitucional a segregação racial nas escolas públicas. No ano seguinte, a costureira Rosa Parks se negou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco em Montgomery, no Alabama.
Seu protesto desencadeou um movimento de boicote de mais de um ano ao transporte coletivo na cidade, no qual se destacou o pastor batista Martin Luther King. O protesto culminou com uma resolução da Justiça que tornou ilegal os ônibus segregados na cidade. O movimento pelos direitos civis da população negra ganhava as ruas, também apoiado por militantes vindos dos estados do Norte.
Em 1963, cerca de 250 mil pessoas marcharam em Washington pelo fim da segregação racial, no evento que ficou conhecido como a Marcha de Washington. O ponto alto foi o discurso do reverendo Martin Luther King, considerado como um dos episódios mais marcantes da luta contra o preconceito.
“Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. No ano seguinte, foi promulgada a Lei dos Direitos Civis, que proibiu a discriminação racial nos EUA.
Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação
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