sexta-feira, 22 de maio de 2020

PRESSÃO POR APROVAÇÃO DE PROJETO QUE QUEBRA PATENTE DE MEDICAMENTOS USADOS CONTRA COVID 19


Um grupo de 84 especialistas na área de saúde, de diversos países, enviou nesta quarta-feira (20) uma carta ao presidente da Câmara Rodrigo Maia(DEM-RJ), pedindo urgência na votação de um projeto de lei que estabelece a quebra de patente temporária para medicamentos e insumos usados no combate ao Covid 19.
"Esse projeto de lei certamente promoverá o interesse público ao garantir o acesso a fontes adicionais de suprimentos e de produtos de saúde mais acessíveis", afirma o documento, organizado pelo Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual, coletivo de organizações da sociedade civil que defende a quebra de patentes em situações de emergência sanitária.
Entre os signatários da carta estão o indiano Anand Grover, que foi relator especial da ONU para a área de saúde entre 2008 e 2014, além de professores e cientistas ligados a instituições como as universidades de Harvard Estados Unidos , York e Leeds (ambas no Reino Unido).
Ao todo, houve a adesão de especialistas de 28 países, incluindo China, Uganda, Índia. África do Sul e México. No Brasil assinam a carta pesquisadores e professores da Fundação Oswaldo Cruz e de diversas universidades, nas áreas de saúde e direito comercial.
O projeto foi apresentado à Câmara no início de abril, quando a pandemia no Brasil começava a escalar. Num raro momento de união entre opostos ideológicos, teve a autoria de 11 deputados federais pertencentes a oito partidos, do PT ao PSL.
O objetivo é que, durante a atual crise e em emergências globais futuras, haja o chamado licenciamento compulsório, ou seja, a possibilidade de que outras empresas além da criadora do produto possam fabricá-lo e comercializá-lo. Isso garantiria o suprimento num momento de alta demanda e ajudaria a reduzir os preços.
"Este projeto segue a ação de países como Alemanha, Canadá, Israel, Chile, Equador e Colômbia que adotaram medidas legislativas para favorecer o acesso rápido a tecnologias úteis para conter a pandemia", afirma o documento. Segundo a carta, "impedir monopólios é uma medida estratégica e importante, fundamental para aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde sobrecarregados".
A indústria farmacêutica já se posicionou contrariamente ao projeto. A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que reúne os fabricantes de remédios, afirma que o licenciamento compulsório "representa uma grande ameaça à pesquisa e ao desenvolvimento de novos tratamentos, por inviabilizar a sustentabilidade da pesquisa científica."
A entidade diz ainda que haveria prejuízo à credibilidade do Brasil, pelo fato de a medida ir contra acordos internacionais de que o país é signatário. Segundo a Interfarma, para um novo medicamento se mostrar seguro e eficiente são necessários em média dez anos de pesquisa e US$ 1 bilhão investidos.
Os defensores da quebra de patente rebatem o argumento dizendo que a OMS- Organização Mundial da Saude em dispositivos que possibilitam esse tipo de medida em momentos emergenciais.
Além disso, diz a carta, a emissão de uma licença compulsória não expropriaria os direitos de propriedade do titular da patente, que seguiria recebendo royalties pela invenção. "Uma licença compulsória não impede o titular da patente de vender seu produto. Permite que o governo compre uma determinada tecnologia de qualquer fornecedor disponível, incluindo o proprietário da patente licenciada", afirma o texto.
Segundo o documento, a inovação é importante e deve ser reconhecida, inclusive financeiramente. "Mas não precisa ser recompensada por meio de monopólios e da cobrança de preços exorbitantes pelas novas tecnologias de saúde".
Ainda não há prazo para que o projeto entre em pauta na Câmara, que vem trabalhando de forma remota desde o início da pandemia. Para Pedro Vilardi, coordenador do Grupo de Trabalho, a carta dos especialistas reforça a urgência do projeto de lei:
— Cabe ao presidente Rodrigo Maia agora agir em defesa da saúde da população. O mundo inteiro está assistindo.

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